Lara's dreaming

A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

sábado, novembro 24, 2012

Acção conjunta GTP/Panteras Rosa STP2012 a 20 de Outubro de 2012



ORAÇÃO DAS TRANS-TORNADAS

Em nome da Mãe solteira, da Trabalhadora do Sexo e do Espírito Livre, vos abençoo...

Atchim!

Dr. Sousa Martins, nosso amigo de todas as horas, que fosteis progressista e 'maçon', que agradeceríeis à divina providência não seres reconhecido pela diz-que-santa igreja, livrai-nos da corrosão democrática dos Policarpos e de não sairmos à rua, abençoai este nosso acto...

Atchim!

Dr. Sousa Martins, companheiro de todos os momentos, tanto os de alegria como os de sofrimento; guiai os nossos passos, os nossos pensamentos e acções contra o binarismo de género e a patologização de todas as identidades trans...

Atchim!

Senhora da Nazaré, vós que sois a Mãe de Misericórdia, consoladora dos aflitos, refúgio e advogada dos pecadores despudorados como nós, concedei-nos, Senhora de Nazaré, a graça que do Vosso Coração Imaculado e cheio de ternura, esperamos com toda a confiança, e afastai de nós o inculto psiquiatra e a transfobia...

Atchim!

Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo que sofrestes e morrestes na cruz para redimir os nossos muitíssimos e repetidos pecados, nós Vos pedimos, pela intercessão do bondoso Dr. Sousa Martins, livrai-nos da Ordem dos Médicos, de cirurgiões talhantes e outras polícias do Género, das esterilizações forçadas e das operações de intersexuais à nascença. Animadas pela confiança em Vós, assim nos prostramos aos vossos pés...

Atchim!

Dr. Sousa Martins, intercedei por nós junto da Senhora da Nazaré e rogai-lhe que saiba onde foram os preservativos gratuitos, as seringas descartáveis para troca e todo o Programa nacional de combate à Sida e Rogai-lhe também que descubra onde páram os 5 milhões de Euros que lhe eram destinados... livrai-nos da austeridade...

Atchim!

Dr. Sousa Martins, que preveníeis as doenças e contrariáveis as injustiças, sê o nosso porta-voz diante de espíritos menos iluminados, médicos ou cientistas, professores ou sacerdotes que ainda preguem ódio e discriminação, sê nosso advogado nas alturas diante dos governantes que desgovernam tudo, retirai-lhes o poder de destruir o Sistema Nacional de Saúde e de acabar com a prevenção das IST's... livrai-nos do Paulo Macedo, do Passos, do Gaspar, e da Isilda Pegado e apesar dos seus actos intercede por eles se apanharem coisas infecciosas...

Atchim!

Sob a benção do médico dos pobres, protector dos aflitos... gozemos alegremente sob a protecção de Santo Latex e Santo Gel Aquoso, Santo Femidon, Santa Barreira Dental, Santa Luva de Latex e Santa Seringa Descartável...
Dr. Sousa Martins, intercedei por nós, Dai-nos a Identidade de Género no artº 13º da Constituição, Protegei transexuais, transgénero, intersexuais, trabalhadoras sexuais, todas as rebeldes de Género e demais não-normativas, TRANS-TORNADAS de raiva -- de Género não -- e tomadas de razão. Assim seja...

Atchim!"

Balanço do dia Internacional de Acção pela Despatologização Trans 2012:

Mais de 100 acções em diferentes partes do mundo decorreram ao longo do mês de Outubro

Subscritores da campanha STP2012 em Portugal: Grupo Transexual Portugal, Panteras Rosa - Frente de Combate à Lesbigaytransfobia, GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA Pedro Santos (Lisboa), Portugalgay.pt, Opus Gay, SOS Racismo, UMAR - União Mulheres Alternativa e Resposta, Poly Portugal, não te prives – grupo de defesa dos direitos sexuais, Caleidoscópio LGTB.

Consulta aqui o Manifesto Português STP2012: http://panterasrosa.blogspot.pt/2012/10/dia-internacional-pela-despatologizacao.html

Press Release Internacional:

"A 20 de Outubro de 2012, Dia Internacional de Acção pela Despatologização Trans, e ao longo do passado mês de Outubro, realizaram-se acções pela despatologização trans em diferentes partes do mundo, realizadas no âmbito da convocatória anual da STP 2012, Campanha Internacional Stop Trans Pathologization.

Concretamente, ao longo do ‘Outubro Trans 2012’ tiveram lugar mais de 100 actividades em 48 cidades de diferentes continentes, organizadas por mais de 80 grupos e organizações activistas. Além disso, mais de 350 grupos, redes e organizações de África, América Latina, Ásia, Europa, Américado Norte e Oceania, bem como numerosas pessoas individuais, declararam a sua adesão à campanha STP 2012.

A STP 2012 exige a retirada das categorias diagnósticas de ‘Transtornos da Identidade de Género’ e ‘Fetichismo Transvestista’ / ‘Transvestismo Fetichista’ do DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico dos Trastornos Mentais, publicado pela Associação Norte-americana de Psiquiatria, e da CIE, Classificação Internacional de Doenças e outros Problemas de Saúde, editada pela OMS, Organização Mundial de Saúde. Além disso, reivindica a cobertura pública de cuidados médicos trans-específicos, bem como la substituição do actual modelo de avaliação no acesso a tratamentos trans-específicos por uma abordagem baseada na autonomia e na decisão informada. Com o objectivo de facilitar essa cobertura pública, a STP 2012 propõe a introdução de uma referência não patologizante dos cuidados médicos trans-específicos na CIE-11, como um processo de saúde não baseado nuna doença ou transtorno mental. Exige ainda a retirada dos requisitos médicos das leis de identidade de género existentes, bem como a aprovação de novas leis de reconhecimento de género baseadas numa perspectiva de despatologização e direitos humanos.

Actualmente, o activismo pela despatologização trans encontra-se num momento decisivo: em 2013, prevê-se a publicação do DSM-5. A revisão da CIE está em pleno processo, com a publicação da 11ª versão anunciada para 2015.

Ao longo dos últimos anos, a reivindicação de despatologização das identidades trans ganhou um reconhecimento crescente, tanto por redes activistas, associações profissionais e governos, como por organismos internacionais. Entretanto, as pessoas trans continuam expostas a situações de patologização, psiquiatrização, discriminação, exclusão social e violência transfóbica. A actual situação de crise económica encerra novos riscos de uma perda de direitos cidadãos e de aumento de desigualdades sociais.

Por estas razões, as reivindicações da campanha mundial STP 2012 e dos grupos activistas de diferentes partes do mundo que participaram no Dia Internacional de Acção pela Despatologização Trans 2012 são mais urgentes que nunca.

¡Stop Trans Pathologization!" Link da Campanha Internacional: http://www.stp2012.info/

quinta-feira, novembro 15, 2012

Grupo Transexual Portugal -- Comunicado




A 20 de Novembro, activistas trans e simpatizantes reunir-se-ão em Allston em memória de Rita Hester, uma mulher cujo assassínio há 14 anos chocou profundamente a comunidade trans local e mudou a resposta que a comunidade local, nacional e internacional dá contra a violência anti-trans.

Hester, mulher trans assumida e muito popular entre as comunidades trans e do rock’n’roll de Boston, foi vista pela última vez no bar Allston Silhouette, de onde saiu acompanhada por dois homens, um dos quais seria um conhecido dela.

Foi brutalmente esfaqueada pelo menos 20 vezes no tronco em sua casa por um ou mais desconhecidos. O seu corpo foi encontrado a 28 de Novembro de 1998.

O motivo do ataque continua desconhecido, bem como a identidade do ou dos assassinos. As jóias de ouro que usava não foram roubadas e não havia sinais de entrada forçada no seu apartamento. Hester teria trabalhado como trabalhadora sexual com o nome de Naomi, mas não existem evidências que o ou os assassinos seriam clientes.

A cobertura mediática deste crime foi vergonhosa, particularmente no Boston Herald e no Bay Windows, em que ambos os jornais se referiram a ela com pronomes masculinos. O Herald referiu-se a ela repetidamente como um travesti. A onda de repúdio que se gerou por estes tratamentos fez com que o na altura editor do Bay Windows Jeff Epperly escrevesse um editorial acusando os críticos de agirem como uma polícia do pensamento.

Em 2006 a polícia reabriu o caso a pedido da mãe e indagaram junto da comunidade trans por alguma novidade em relação ao caso, que permanece não resolvido até hoje. É opinião geral na comunidade trans de Boston que o assassínio de Hester foi um crime de ódio, suspeitas substanciadas pela brutalidade do ataque e pelo facto de nada parecer ter sido roubado do apartamento.

Este crime, evidentemente, não foi o primeiro a unir a comunidade trans. Em 1995, o assassinato de outra mulher trans, Chanelle Pickett, originou uma vigília na igreja de Arlington Street, em Boston.

Mas a morte de Hester representou um ponto de viragem na comunidade trans de Boston, despoletando um espírito acivista que depressa se espalhou pelo país e pelo mundo. Uma multidão de mais de 200 pessoas compareceram numa vigília organizada pela comunidade em Allston e a uma marcha em Dezembro desse ano, muitas não pertencentes à comunidade trans.

No rescaldo deste caso, activistas de San Francisco criaram o Day of Remembrance em 1999 em memória de Hester. 20 de Novembro foi a data escolhida para o evento, que depressa se espalhou pelo resto do mundo. Neste dia revive-se a memória de quem nos deixou devido a crimes.

O site Remember Our Dead foi criado para que a memória destes crimes não se perca. Mais recentemente, o projecto Transrespect versus Transphobia foi criado na Europa com a mesma intenção.

Tal como com o caso de Hester, a maioria dos assassinatos permanecem não resolvidos.

Em Portugal, o caso mais mediático de Gisberta Salce Junior, mulher trans imigrante brasileira sem abrigo, toxicodependente e HIV +, torturada durante 3 dias por um grupo de jovens em 2006 e abandonada para falecer afogada num buraco no Porto é um dos casos que deve ser mantido na memória colectiva. A junção de todas estas situações (transexualiadde, toxicodependência, ser sero positiva e sem abrigo) contribuíram para o terrível desfecho, embora a motivação mais forte (e a única que se conhece) seja a transfobia, bem descrita nas palavras de um dos assassinos que “detestava homens com mamas”.

O triste desfecho deste caso já era adivinhado nas palavras do procurador público encarregue do caso, que o considerou uma “brincadeira que correu mal”, bem como de inúmeras organizações de apoio a vítimas e a menores desfavorecidos, que tentaram por todos os meios desculpabilizar os “inocentes jovens” que numa inocente brincadeira torturaram durante 3 dias uma pessoa e, julgando-a morta ao fim desse tempo, tentaram queimá-la e atiraram-na para um buraco com água onde, ainda viva, os seus pedidos de socorro foram por eles ignorados.

O caso de Luna, em 2008, mulher trans também imigrante brasileira, cujo corpo foi encontrado semi enterrado num contentor de resíduos na zona da grande Lisboa, é outro caso de morte violenta. Deste pouco mais se sabe. Nunca foi resolvido, e o facto de na mesma altura terem havido outras mortes mais mediáticas contribuiu decisivamente para o seu esquecimento.

Infelizmente, este ano (entre 15 de Novembro de 2011 e 14 de Novembro de 2012)  existem mais 265 trans a serem acrescentadas à lista para serem recordadas, de acordo com a mais recente actualização do projecto da Transgender Europe “Murder Monitoring Project”. No total, desde Janeiro de 2008, os resultados mostram que 1083 pessoas trans foram assassinadas em 56 países. Para acederem à listagem e informação sobre estes assassinatos, clicar AQUI.

Comparando com os resultados de anos passados, testemunha-se um aumento significativo, bem exemplificativo dos extremos níveis de violência a que as pessoas trans estão expostas: 162 em 2009, 179 em 2010 e 221 em 2011.

Das 265 mortes noticiadas, 126 foram no Brasil, 48 no México, 15 nos EUA, 9 na Venezuela, 8 nas Honduras, 6 na Colombia, Índia e Uruguai, 5 na Guatemala, Turquia e Paquistão e 4 nas Filipinas.

Por todas estas vítimas, estamos aqui a denunciar.

Para que não se esqueçam.