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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Os sentimentos das palavras

Quando escrevemos para nós, para alguém, para os outros, podemos escrever cheios de emoções e sentimentos, mas raramente alguém tem o dom de transmitir aos outros o que sente. E este post é sobre isso mesmo: sentimentos. Sentimentos das palavras. Sentimentos nas palavras.

Saudade. Palavra única no mundo, que só existe em português. Exprime um sentimento singular e especial de falta, de uma ausência sentida. Sentida e transmitida por tantos poetas, escritores e imortalizada no fado. No fado que é só nosso. E de nosso passou para o mundo. Porque onde quer que o fado seja cantado, a emoção, o sentimento da saudade está lá. Presente.

A saudade foi a primeira palavra que me lembrei e um (se não o melhor) exemplo do que é transmitir um sentimento numa palavra. Tenho recebido muitas críticas sobre aquilo que publico aqui, no meu cantinho não diário, mas minimamente regular. Há quem diga que consigo transmitir os sentimentos e emoções inerentes às experiências ou pensamentos que partilho, há quem me acuse de ser fria, de me fazer de vítima e coitadinha, de explorar através do que escrevo uma complacência dos outros que não quero, não preciso e que recuso liminarmente.
 
 
A ideia inicial deste blog era falar, através do que escrevia, das minhas experiências de vida, daquilo que acho de A ou B, de exprimir os meus sentimentos e emoções sobre os outros, sobre o mundo, sobre o que me dá na telha, mas que acho importante partilhar.

Mas a partilha só faz sentido quando é isso mesmo: partilha. Quando escrevo não sei quem está do outro lado, quem me lê. Independentemente do que pensa, do que sente, se concorda, discorda ou se se está a cagar para aquilo. Mas o essencial é que haja partilha. Que eu tenha feedback, retorno, por parte de quem lê. Que eu partilhe com os outros coisas que foram (ou são) importantes para mim e que podem de alguma forma ajudar alguém, fazer alguém pensar, questionar-se, identificar-se (ou não).

Escrevo como falo. Com o coração ao pé da boca. O que sinto é o que escrevo. Escrever, para mim, não é um processo racional, é algo de espontâneo, emocional, sentimental. Escrevo como amo. Escrevo como vivo. Devia ser mais racional, isso sei eu, mas não sou. Acho que aprendi a sê-lo um pouco mais com a idade e as experiências porque fui passando, mas continuo eu, emocional.

Cometo erros de uma miúda de 15 anos. Mas sou pragmática com a vida como uma velha de 65. Isso, felizmente, não me retirou a capacidade de sentir, de ser eu, de ser emocional, de chorar, de rir, de viver como posso e como me deixam.

Sermos nós é o mais importante. Não sou perfeita como ninguém é. Estou profundamente insatisfeita comigo. As lutas internas acontecem constantemente, intercaladas com períodos de "quero lá bem saber". Mas tento não deixar de sentir. Sentir-me. Não me deixar ficar anestesiada. Sentir os outros. Transformar estas linhas numa conversa convosco. Tentar reflectir sentimentos, sejam eles quais forem, através das minhas palavras.

É a única coisa que me resta. Sentir. Há quem diga que não se conseguem transmitir sentimentos através da palavra escrita. Não podia estar menos de acordo. Não sei se os consigo transmitir através das minhas palavras neste blog, mas espero que sim. Resta-me agradecer a todas as pessoas que me vão lendo. E agradecer também a todas aquelas pessoas que me dão um retorno. Obrigada a tod@s.