A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

terça-feira, agosto 22, 2006

Eu... e as outras

Foto: Patrícia Andrade

Passei um dia normal, como tantos outros, sem nada de especial, ou de relevância. Deu-me para descansar, e, acima de tudo, pensar. Reflectir em mim, no que eu sou como essência e no corpo que possuo, aquele em que nasci.
Cheguei a várias conclusões, que podem ser, e irão ser fatais no meu processo clínico, pois agora que está terminado e que a disforia de género está mais que diagnosticada, serei lixada por escrever estas linhas.
Porque é que eu, sendo uma mulher transexual tenho que me encharcar em hormonas apenas para ter mamas? Na realidade, faço tratamento hormonal há três anos e meio e elas nunca cresceram, nem dão sinais disso. Resumindo, para ser supostamente uma "mulher" eu tenho que ter mamas, logo, se não crescem com as hormonas, terei que me submeter a uma mamoplastia... E quem disse que eu quero? E quem disse que são umas mamas ou uma vagina que fazem uma mulher? Serei (ou sou) menos "mulher" por não ter mamas e manter os genitais de nascença. Sim, a pilinha e os tomatinhos, assim num tom mais infantil.
Não faço as mínimas tenções de ser igual às outras só porque psico-socialmente, e principalmente, sexualmente, TODAS as mulheres têm supostamente que ter os mesmos sinais: figura arredondada, mamas (quanto maiores melhor) e uma vagina (neovagina no caso das transexuais operadas).
Sim, por mais incrível que pareça a quem lê estas linhas, respeito TODAS as opções/decisões em relação ao corpo de qualquer pessoa, mas eu não só não vou pôr próteses mamárias, como não vou fazer a cirurgia de redesignação de sexo.
Só para terminar: já sofri demais e, mal ou bem, este é o meu corpo e quem tem que gostar ou não dele sou eu, e modificá-lo só me diz respeito exclusivamente a mim.
E eu NÃO o vou fazer. Como costumo dizer, "quem gosta, gosta, quem não gosta põe à borda do prato". E acho que tenho dito.
Basicamente TODAS as mulheres transexuais que conheço, conheci, e fui conhecendo se preocupam com os seus corpos. Não as critico, obviamente, muito antes pelo contrário. Acho que cada uma de nós deve modificar, alterar (ou não), o seu corpo de forma a se sentir bem, feliz com ele. Mas eu não sou assim. Sou MUITO diferente nesse aspecto. Nasci assim, modifiquei pequenas coisas com as hormonas e tenho os meus cuidados, mas não vou passar pelo que a maioria delas passa, não pela dor (estou demasiado habituada a ela), mas porque não sinto essa necessidade.
Sinto, isso sim, necessidade de AMOR. Pois, se houver Amor, o facto de eu ser uma mulher trans sem mamas e com genitais masculinos não irá alterar nada, nem fará de mim menos mulher. Já fui e sou muito criticada por pensar assim, mas eu sou eu, única como qualquer pessoa o é na sua essência.
Como já referi, sei bem que este post travará e, muito provavelmente, eliminará e não deferirá a minha autorização da Ordem dos Médicos para as cirurgias. Lamento por uma parte de mim, e por aqueles e aquelas que gostavam de me ver uma Barbie.
Lamento, mas não sou assim. E, para terminar este post da mais bela forma que poderia encontrar, aqui fica um videoclip com uma das canções da minha vida, e que me faz chorar cada vez que o vejo e oiço.

Desculpem a sinceridade, mas esse é um dos meus grandes defeitos. Lara.

Ewan McGregor & Nicole Kidman - "Come What May" (Moulin Rouge)

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Se as pessoas se respeitassem umas às outras, unicamente por seem pessoas, os problemas desapareciam . Por que raio é q temos de nos identificar( fisicamente, quero dizer) com um génro. E porque é q esse género tem de ter determinadas dimensões e "equipamentos"? Eu , serei sempre eu, com mais ou menos pelos, com mais ou menos mamas... Só deviamos alterar aquilo q incomoda a nossa auto-estima, aquilo q não nos deixa sentir bem connosco mesm@s.Mas não, há sempre a necessidade de colocar rótulos, de arrumar as pessoas em prateleiras (aquele é homem hetero, aquela é mulher lésbica, aquele é trans MTF...e por ai fora). Quem nos amar ha-de amar-nos por aquilo q somos, enquanto pessoas. Por isso, não podia estar mais de acordo c este post.Temos direito a exprimir os nossos sentimentos livremente ( ou deveriamo ter esse direito!), assim como temos direito de reformular e amadurecer as nossas opiniões. Não me parece q alguém a deva "condenar" ou "catalogar" por este post.
Continuo a gostar de ler este blog.
Tudo de bom, Lara. Beijinho

agosto 22, 2006 8:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nao me enganei, es mesmo especial.

Kiss, kiss...


M.

agosto 23, 2006 2:19 da manhã  
Blogger Unknown said...

Sabes bem que não era para comentar este post, no entanto aqui vai: Sei o estado de espírito em que estavas quando o escreveste, sei porque estavas assim e apesar de concordar com o que escreves no post, em teoria, conheço-te melhor do que isso, sei bem quais são as tuas aspirações, sei qual o sentimento que tens para com o teu corpo.
Logo sei que não devo ligar a este post mais do que ele mereçe, um explanar de sentimentos momentâneos. Apesar de não comungarmos da mesma opinião em relação a certos assuntos, estou e estarei contigo seja qual fôr a direcção que tomes para o teu futuro como bem sabes. Jinhos kida e muita força...

agosto 23, 2006 4:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eu sei que não hesitas em pagar o preço pela integridade dos teus princípios e da tua essência. Eu digo isto porque aos poucos te vou conhecendo, explorando a intrincada selva que é a tua mente, e cada vez te admiro mais. Sei também que o que te leva a escrever o que escreveste é essa característica maravilhosa que tu tens, a autenticidade e a honestidade. Ao não te sentires obrigada a seguir os padrões que muitos adoptaram estás a usufruir de um dos direitos fundamentais que te assiste, o da liberdade. Não quer dizer que se amanhã mudares de idéias eu ache isso alguma incoerência, pois a tua essência de mulher não é alterada. Assim, porque alguém indeferiria a autorização para as cirurgias?
Quem te amar vai-te amar pela grande mulher que és, amar-te-á pelo que há de mais
maravilhoso em ti, a tua mente, e quererá estar ao teu lado sabendo as opções que seguiste foram inteiramente pessoais.
Beijos.

agosto 24, 2006 8:33 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home