A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quarta-feira, abril 11, 2007

Confessions...


Depois de uma Páscoa passada entre a mágoa de uma relação cada vez mais distante e fria com os meus pais, e de nem ter podido ver a minha sobrinha, decidi escrever este post que está dividido em duas partes. Uma dedicada a Madonna (não, não estou obcecada, mas sou hiper-fã dela, além de que a senhora ganhou mais uns louros para a sua carreira), e outra dedicada a mim e a esta fase de espera pela autorização da Ordem dos Médicos, que me está a pôr doente.

Em relação a Madonna, e depois da parceria com a H&M para a colecção de roupa feminina, eis que a rainha da pop ganhou mais dois prémios.
Madonna foi nomeada em duas categorias diferentes nos International Dance Music Awards deste ano e, não sendo surpresa para ninguém pela qualidade, ganhou o Best Dance Video com "Jump" (ver vídeo no final do post) e Best Dance Artist Solo.
Convém frisar que eu, apesar de fã da artista, não sou fundamentalista e sei distinguir o trigo do joio em relação aos trabalhos dela. Considero que a "The Confessions Tour" é um dos melhores espectáculos com que ela já nos brindou, apesar de não ter tido hipótese de ver aqui em Lisboa a "Re-Invention Tour". Ou seja, das tournés anteriores que tive oportunidade de ver (praticamente todas, em DVD óbvio) esta destaca-se pela escolha musical, pelos fabulosos figurinos de Jean-Paul Gaultier, e por toda a parafernália visual/musical do show.
Não há dúvida de que Madonna é como o Vinho do Porto: aos 48 anos está melhor que nunca.


E de Madonna passamos para mim, salvo-seja. Sinto que tinha muita coisa que escrever aqui, muita letra, muita palavra que me escorre dos dedos. São mágoas de muitos anos, dores minhas e só minhas, que partilhei, algumas, com um ou uma amiga íntima.
Antigamente ainda conseguia partilhar algo de mim com a minha mãe e/ou com a minha irmã. Em relação à minha mãe, tornou-se impossível o diálogo. Falo para uma parede fria, que apesar de eu saber que também sofre, não deixa de ser uma parede. Lágrimas correm-me e têem-me corrido por já não ser para ela a mesma pessoa que sempre fui. Porque sou. Mas ela apenas vê o meu exterior, e do "filho" já pouco ou nada resta. Não me reconhece. Eu não a reconheço. E o que me dói mais é saber que em pouco tempo (ela já tem 78 anos) a vou perder. Não suporto, nem quero suportar essa ideia. Como vou continuar a (sobre)viver emocionalmente sem a presença dela, mesmo que ausente? Como vou enfrentar a vida sem a minha melhor amiga, aquela que me carregou no ventre nove meses e me mimou, cuidou de mim quase toda a vida?

Quanto à minha irmã pouco ou nada há a dizer. Sempre foi uma irmã ausente, sei que cuidou juntamente com a minha mãe, de mim, quando era bebé e pequenina, mas revelou-se cínica e mesquinha. Inicialmente confiava nela e ela, supostamente, dava-me todo o apoio para a minha transição. Hoje sei que nem sequer nos meus anos me telefona e que me considera um travesti de ponta de esquina. Mas não é por me considerar um travesti que ela me magoa, pois tenho o maior respeito por toda a gente, e especialmente pelos travestis. O que me magoa é a minha irmã, sangue do meu sangue (e somos parecidas fisicamente, ainda por cima), ter levantado falsos testemunhos e mentiras em relação a mim junto dos meus pais. Dos pais dela. Ou seja, todo o respeito, carinho e quase idolatria que eu tinha por ela caíram por terra. Como se costuma dizer, os ídolos têm pés de barro.

E vou terminar dando apenas um pequeno relevo aos homens. Na minha família próxima são dois: o meu pai e o meu irmão (pai da minha sobrinha). Amo os dois, mas ainda mais do que a minha mãe ou irmã, ignoram-me. Para eles eu é como se não existisse. Dói-me. Nunca fui muito próxima nem de um nem de outro, mas fui criada com o meu irmão e partilhámos o mesmo espaço, o mesmo quarto, até aos 20 e poucos anos dele. Já tentei aproximações, mas nada resulta. Sou considerada lixo por ambos, e eles nem sequer entendem aquilo que sou. A minha essência. E como não entendem, evitam e ignoram. Nada posso fazer.

Quanto aos posts que publiquei aqui sobre os homens, volto a frisar que é a MINHA visão actual da MAIORIA deles. Não inclui, e referi-o, os meus amigos e mais um ou outro homem que eu considere diferente. Não sou bissexual, não sou lésbica, e não tenho ódio aos homens. Sou uma simples mulher Transexual heterossexual que teve azar com os homens que conheceu. E foi dessas experiências que eu falei. E se este blog serve para alguma coisa, é para eu dar largas ao que penso, e acima de tudo, ao que sinto.
Tenho quase quase 36 anos e estou sozinha. Confesso que afastei alguns potenciais bons candidatos. Porquê? Talvez por medo, talvez por insegurança, talvez por, como me dizia uma amiga, "ter medo de ser feliz".
Mas, no meio disto tudo, não perco a esperança de encontrar num qualquer local, o "meu" homem, o meu príncipe encantado.

Beijos confessionais de Lara

Com vocês, Madonna e o premiado vídeo "Jump":