Rage and Sadness
Hoje começo por escrever sobre tudo o que me tem passado pela cabeça. Por coisas passadas e coisas futuras, por relações ou não-relações, pelos meus pais, pelo meu corpo prestes a ser cortado.
Estou cheia de raiva. De raiva mas uma raiva triste. Alguma contra os outros, mas a maioria contra mim própria. Lembrei-me dele hoje, do Jorge, com quem tive a única relação minimamente duradoura da minha vida. Não sei porquê. Mas lembrei-me dele. Dos bons momentos que passámos e da dor que senti quando ele terminou tudo. Do Jorge de Odivelas. É, ultimamente Odivelas anda muito na voga na minha vida. Conheci (entre aspas) vários homens de Odivelas aqui na net. E, pelos vistos, como se dizia de Espanha antigamente, de Odivelas nem bom vento, nem bom casamento. Conclusões, deixo-as ao vosso critério...
Estou cansada de chats e de gente estúpida, ignorante e pequenina. Confesso que sempre que alguém iniciava um "private" comigo eu tinha esperança de encontrar um ser humano do outro lado. Totalmente errado. Mentiras, ordinarice e brejeirice, estupidez pura, e uma ignorância que até faz dó. E o pior é que são ignorantes mas nem estão interessados em deixar de o ser. Penso que as duas mais ridículas que me aconteceram ultimamente foram as seguintes: "Ah, és transexual, logo gostas de mulheres, né?", ou esta outra "pérola": "Transexual? Quer dizer que és bi, certo?". Isto quando não sou tratada com "mimos" tipo "paneleiro", "ah, és gay?", ou "se és transexual quer dizer que és homem". Sim, seria homem se fosse um transexual masculino. O que se passa é que sou o oposto. Mulher.
Quanto aos meus pais, e restante família, houve alguns avanços, e muitos recuos. A minha mãe e o meu pai têm-me ajudado bastante, mesmo monetariamente, devido ao facto de eu continuar desempregada. Não posso deixar de lhes agradecer e nunca me irei esquecer que foram eles que me pagaram todos os medicamentos que tive que tomar no início do mês, quando apanhei uma forte gripe de Verão. Saí de casa já há bastante tempo, a nossa relação é afastada (o meu pai nem sequer me quer ver), mas realmente, seja eu quem for, continuo a ser filha deles, e eles estiveram lá para mim. Obrigada do fundo do coração.
Confesso que morro de saudades deles, mas eles não recuaram um passo na sua decisão de não aceitarem, nem respeitarem quem eu sou. E eu também não recuei um passo em relação a isso. Ou me aceitam e respeitam, ou é melhor deixarmos as coisas assim. Vou vendo a minha mãe um bocadinho de vez em quando, nas escadas, e isso quase que me basta. Sinto o aperto dela, a ânsia de me abraçar, mas o controle vem e ela mostra-se fria. Mas eu vejo amor e paz nos olhos dela.
Irmãos. O meu irmão sempre foi especial para mim, talvez porque fomos criados juntos e apenas quatro anos nos separam. Adoro-o, mas acho que ele não vai conseguir ultrapassar a barreira do preconceito em relação a mim. Quem sabe um dia, com ajuda da minha sobrinha e da minha querida cunhada? Talvez. Mas tenho as minhas dúvidas. No fundo, a única pessoa de quem eu sinto real apoio é da minha cunhada Raquel. Houve algum afastamento entre nós, mas já antes de eu me assumir. Mas sei que, no fundo, ela continua a gostar de mim e a respeitar-me, como eu sempre fiz com ela. Morro de saudades da minha sobrinha, acho que "vou ter" que a levar ao Zoo!
Irmã: cínica, falsa, mentirosa, intriguista e falsa-moralista. A maior desilusão que eu apanhei nos últimos anos. Ela, juntamente com o igual marido (infelizmente meu cunhado), foram fazer intrigas com mentiras ridículas, mas gravíssimas, aos meus pais. Penso que está tudo dito, pois nem coragem tiveram de me enfrentar. O maior desgosto que tive, a maior mágoa, depois de passar a raiva inicial. É pena não podermos escolher quem queremos para irmãos, neste caso.
Futuro próximo. No final do Verão, e se tudo correr bem, vou finalmente iniciar as cirurgias. Começarei com as próteses mamárias, que me vão dar uma estética diferente e mais natural ao corpo. Confesso que fui muito renitente às próteses até há algum tempo atrás, mas como as minhas mamas são praticamente inexistentes, cheguei à conclusão que seria a melhor opção. Faca, aí vou eu!
E, para terminar, eu sei que este é mais um post "blue", como muitas vezes vem sendo hábito. Escrevo para mim, tendo consciência que, pelo menos algumas pessoas irão ler estas linhas, e partilhar um pouco da minha vida. Sou triste, eu sei, sou depressiva, eu sei, mas é assim que sou. E, como costumo dizer, "quem gosta, gosta. Quem não gosta põe à borda do prato".
Boas férias para quem vai, e bem vind@s para quem regressa.
Lara com eternos agradecimentos para a Edu pela paciência e por estar lá, e para a Patrícia Andrade que me fotografou divinamente em 2002. Para visitarem os blogs de ambas, basta clicarem nos respectivos links nos nomes.
Sheryl Crow - "My Favorite Mistake"
Estou cheia de raiva. De raiva mas uma raiva triste. Alguma contra os outros, mas a maioria contra mim própria. Lembrei-me dele hoje, do Jorge, com quem tive a única relação minimamente duradoura da minha vida. Não sei porquê. Mas lembrei-me dele. Dos bons momentos que passámos e da dor que senti quando ele terminou tudo. Do Jorge de Odivelas. É, ultimamente Odivelas anda muito na voga na minha vida. Conheci (entre aspas) vários homens de Odivelas aqui na net. E, pelos vistos, como se dizia de Espanha antigamente, de Odivelas nem bom vento, nem bom casamento. Conclusões, deixo-as ao vosso critério...
Estou cansada de chats e de gente estúpida, ignorante e pequenina. Confesso que sempre que alguém iniciava um "private" comigo eu tinha esperança de encontrar um ser humano do outro lado. Totalmente errado. Mentiras, ordinarice e brejeirice, estupidez pura, e uma ignorância que até faz dó. E o pior é que são ignorantes mas nem estão interessados em deixar de o ser. Penso que as duas mais ridículas que me aconteceram ultimamente foram as seguintes: "Ah, és transexual, logo gostas de mulheres, né?", ou esta outra "pérola": "Transexual? Quer dizer que és bi, certo?". Isto quando não sou tratada com "mimos" tipo "paneleiro", "ah, és gay?", ou "se és transexual quer dizer que és homem". Sim, seria homem se fosse um transexual masculino. O que se passa é que sou o oposto. Mulher.
Quanto aos meus pais, e restante família, houve alguns avanços, e muitos recuos. A minha mãe e o meu pai têm-me ajudado bastante, mesmo monetariamente, devido ao facto de eu continuar desempregada. Não posso deixar de lhes agradecer e nunca me irei esquecer que foram eles que me pagaram todos os medicamentos que tive que tomar no início do mês, quando apanhei uma forte gripe de Verão. Saí de casa já há bastante tempo, a nossa relação é afastada (o meu pai nem sequer me quer ver), mas realmente, seja eu quem for, continuo a ser filha deles, e eles estiveram lá para mim. Obrigada do fundo do coração.
Confesso que morro de saudades deles, mas eles não recuaram um passo na sua decisão de não aceitarem, nem respeitarem quem eu sou. E eu também não recuei um passo em relação a isso. Ou me aceitam e respeitam, ou é melhor deixarmos as coisas assim. Vou vendo a minha mãe um bocadinho de vez em quando, nas escadas, e isso quase que me basta. Sinto o aperto dela, a ânsia de me abraçar, mas o controle vem e ela mostra-se fria. Mas eu vejo amor e paz nos olhos dela.
Irmãos. O meu irmão sempre foi especial para mim, talvez porque fomos criados juntos e apenas quatro anos nos separam. Adoro-o, mas acho que ele não vai conseguir ultrapassar a barreira do preconceito em relação a mim. Quem sabe um dia, com ajuda da minha sobrinha e da minha querida cunhada? Talvez. Mas tenho as minhas dúvidas. No fundo, a única pessoa de quem eu sinto real apoio é da minha cunhada Raquel. Houve algum afastamento entre nós, mas já antes de eu me assumir. Mas sei que, no fundo, ela continua a gostar de mim e a respeitar-me, como eu sempre fiz com ela. Morro de saudades da minha sobrinha, acho que "vou ter" que a levar ao Zoo!
Irmã: cínica, falsa, mentirosa, intriguista e falsa-moralista. A maior desilusão que eu apanhei nos últimos anos. Ela, juntamente com o igual marido (infelizmente meu cunhado), foram fazer intrigas com mentiras ridículas, mas gravíssimas, aos meus pais. Penso que está tudo dito, pois nem coragem tiveram de me enfrentar. O maior desgosto que tive, a maior mágoa, depois de passar a raiva inicial. É pena não podermos escolher quem queremos para irmãos, neste caso.
Futuro próximo. No final do Verão, e se tudo correr bem, vou finalmente iniciar as cirurgias. Começarei com as próteses mamárias, que me vão dar uma estética diferente e mais natural ao corpo. Confesso que fui muito renitente às próteses até há algum tempo atrás, mas como as minhas mamas são praticamente inexistentes, cheguei à conclusão que seria a melhor opção. Faca, aí vou eu!
E, para terminar, eu sei que este é mais um post "blue", como muitas vezes vem sendo hábito. Escrevo para mim, tendo consciência que, pelo menos algumas pessoas irão ler estas linhas, e partilhar um pouco da minha vida. Sou triste, eu sei, sou depressiva, eu sei, mas é assim que sou. E, como costumo dizer, "quem gosta, gosta. Quem não gosta põe à borda do prato".
Boas férias para quem vai, e bem vind@s para quem regressa.
Lara com eternos agradecimentos para a Edu pela paciência e por estar lá, e para a Patrícia Andrade que me fotografou divinamente em 2002. Para visitarem os blogs de ambas, basta clicarem nos respectivos links nos nomes.
Sheryl Crow - "My Favorite Mistake"
1 Comments:
A tua prosa continua excelente! Devias dar outra «roupagem» às tuas experiências, idealizar umas personagens e editar!
Acho que tens tudo o que é necessário - falta-te apenas sair da tua pessoa e dar a todo este manancial uma dimensão universal; chama-se a esse acto transgressor - e dilacerante - da nossa singularidade: literatura.
Dark kiss.
P. S. «Estou cansada de chats e de gente estúpida, ignorante e pequenina. Confesso que sempre que alguém iniciava um "private" comigo eu tinha esperança de encontrar um ser humano do outro lado.» - ainda acreditas em milagres? Mas não penses que levas com podridão maior por seres quem és... é tudo a mesma merda ou pior. Piolheira, amiga, piolheira e ranço!
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