Nip/Tuck - A transfobia continua!
Apesar de não acompanhar regularmente a famosa série Nip/Tuck, de vez em quando vejo alguns episódios, principalmente quando a Fox Life decide transmitir os "3 em 1". Confesso que, apesar de "estranha" a nível de argumentos, já para não falar do sensacionalismo das imagens de cirurgias estéticas e de sexo desenfreado entre toda a gente com toda a gente (esmagadoramente hetero, bem entendido), o que mais me chocou foi a forma leviana, preconceituosa e totalmente transfóbica como a personagem "Ava" (interpretada pela actriz Famke Janssen) apareceu.
Linha mulher fatal, Ava faz sexo com todos, incluindo o próprio "filho", tem ares de superior e de psicopata, e toda a gente "descobre" que afinal ela (Ava, transexual operada) é um ele. Além destes predicados, é apresentada como uma mulher sem escrúpulos nem sentimentos, e cuja "causa" da sua transexualidade é explicada do seguinte modo: Ava era um homem gay que se apaixonou perdidamente por um médico cirurgião plástico. O problema é que o pobre médico era hetero. Então, num acesso de luminosidade interior, decide fazer a cirurgia de redesignação para poder ficar com o seu amor. (Deve ter sido desta série que os iranianos foram buscar as suas teorias).
Como se não bastasse, o filho de um dos cirurgiões, que tinha passado pela cama de Ava, vai a um bar transgénero no qual conhece uma jovem trans. As coisas evoluem, e eles acabam na cama... Oh, tragédia!!! Ele (ingénuo, tadinho) descobre que, afinal, a mulher transexual que estava na cama com ele NÃO era operada!!! Vai daí, prega-lhe uma carga de porrada, além de a tratar com "mimos" verbais tipo "não passas de um homem de mamas", "mentiste-me", "não sou gay" (ridículo no mínimo...), etc, etc, etc.
Claro que a desgraçada, que ficou toda negra, decidiu convidar umas amigas para verem o espécime que lhe tinha feito aquilo. O resto já se sabe, batem no menino de tal forma que os pais (Nip e Tuck. Não não se trata de homoparentalidade, um é pai biológico e outro é pai adoptivo) são obrigados a operá-lo para lhe reconstruírem a face. No meio disto tudo, a transexual é sempre um gajo. Sempre. Tal como Ava, que desde que teve o azar de ir para a cama com um dos cirurgiões, foi sempre tratada no masculino. Claro que cirurgiões deste tipo nem precisam de penetrar para descobrirem a "marosca". Quando a ia penetrar, viu logo que era uma neovagina e tudo.
E com todo este "manancial" de totais disparates, estereótipos, preconceitos e transfobia interiorizada, esta série de fama mundial poderia fazer o que não faz: educar, explicar, lutar contra o preconceito. Não é caindo em argumentos fáceis e estupidamente sensacionalistas que se luta, ou se ensina, ou se explica. Os argumentistas e produtores desta série tinham obrigação de se informar convenientemente e não ridicularizar situações complicadas já de natureza, e, acima de tudo, muito sérias.
É sempre chique ter uns/umas "freaks" numa série televisiva, mais ainda quando a transexualidade está na moda, agora reforçar preconceitos e "gozar" com pessoas, seres humanos, não!
Sendo assim, Nip/Tuck é tudo menos um exemplo seja para quem for. Nem sequer lhe posso chamar entretenimento, pois não me "entretém". É vulgar, banal, vazia de conteúdo, e, pior ainda, reforça a ideia e o esterótipo de que o que importa realmente é como parecemos, não como somos. Out para mim.
Aproveito, no final deste post, para vos informar, car@s leitores, que, a partir de hoje, a Eduarda Santos irá participar em alguns textos que lerão por aqui, como foi o caso deste. Thanks amiga!
E, como vem sendo hábito, deixo-vos com um clip da minha musa. Enjoy.
Madonna - "Music Inferno" - Confessions Tour
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