Perder...
Começo por pedir desculpa a todas as pessoas que seguem ou visitam o meu blog, pois ultimamente não tenho postado novidades.
Por um lado porque não há novidades boas, por outro, porque me sentia (e ainda sinto) um pouco bloqueada para escrever sobre o que tenho sentido e passado.
Muito se fala sempre no meio trans sobre o que significamos nós para a nossa família e vice-versa. Há aquelas que foram pura e simplesmente postas fora de casa pelos próprios pais, e há aquelas que, por sorte ou whatever, lá arranjam maneira de dar a volta (o meu caso) ou têm uns pais (ou uma mãe, em geral) muito compreensivos.
Nos últimos tempos, tive medo de perder a minha melhor amiga, Edu, devido a uma grave tromboflebite na perna direita, que a obrigou a ficar internada e em tratamento vários dias. Culpa do tratamento hormonal que nos pode pregar estas partidas, mas essencialmente culpa agravada do endocrinologista dela, que como pessoa supostamente experiente em tratamentos hormonais de subsituição, devia saber que são muito agressivos e perigosos, principalmente quanto mais avançada é a idade. Ela agora já está em casa, tratada e a recuperar. Mas o susto foi muito grande e chorei muito com medo de algo mais grave.
12 de Abril, Domingo de Páscoa, e o dia em que a minha sobrinha cumpriu 10 anitos.
Falei com a minha mãe para saber como se ia festejar a data, o que ela ainda não sabia, visto mal ter falado com o meu irmão (isto porque a minha cunhada foi nesse dia para o Brasil, em trabalho). Combinei com ela que me ligaria no próprio dia para me dizer como se iam passar as coisas.
Acordo tarde no Domingo. A minha mãe não tinha ligado. Reparo que tenho uma sms no telemóvel. Era do meu irmão. Dizia apenas que a minha mãe lhe tinha dito que eu queria lá ir (a casa) e que não era boa ideia. Caiu-me tudo, mas finalmente ele tomou uma atitude que eu há muito esperava dele: mostrou como é preconceituoso, como me odeia pelo que sou, que tem vergonha de mim, e que acha que tem o direito de me rebaixar em frente aos outros, como se não fôssemos irmãos e não tivéssemos sequer sido criados juntos.
Como se não bastasse, de certeza que a minha sobrinha ficou a pensar que eu é que não quis aparecer nos anos dela, para lhe dar um grande beijo, a abraçar, e lhe dar um presente digno dos seus 10 anos.
E ontem tive a certeza que a perdi. Fui a casa dos meus pais e ela jantou lá. Ignorou a minha presença completamente, como se eu não existisse sequer. Conseguiram o que queriam. Tanto a envenenaram que ela agora reage a mim sem reacção. Uma espécie de ódio silencioso. Mas não, não me descarto aqui da minha própria culpa pelo meu afastamento dela também. Mas esse afastamento deveu-se a me terem pedido para dar tempo, pois ela estava a reagir mal ao facto de eu ser uma mulher Transexual. E eu dei esse tempo. Fiz mal. Tenho tantas lágrimas que chorar ainda, que acho que nunca mais vão acabar.
É incrível como nós, mulheres Transexuais, passamos tão depressa de bestiais a bestas. E sofremos na pele a discriminação da própria família. Resta-nos seguir em frente, pois contra factos não há argumentos. Feliz, ou infelizmente, a vida continua.
2 Comments:
Lara
Faço votos para que a Edu esteja a recuperar e que depresa esteja bem!
A tua sobrinha um dia saberá reconhecer quem está a agir de modo errado, por enquanto, ainda só tem 10 anos!!!
Lara, força, muita força para suportares tudo isso!
beijo amigo
Zé
Lara, deixo-te a minha experiência, vale o que vale. Tenho uma filha com 10 anos, é uma idade muito ingrata. Ela quer muito "encaixar" no seu grupo, ser "igual" e isso não encaixa com uma mãe que vive com outra mulher. Às vezes é difícil para ela e refugia-se no silêncio, no não querer que @s outr@s saibam. Chega até a ser indelicada com a minha companheira que adorava qdo era mais pequena. Crescer doí...mas acredito que o tempo vai resolver. Espero sinceramente que se passe o mesmo com a tua sobrinha.
Beijinh@s
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