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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Abraçar os sonhos

Noites turbulentas em que os sonhos transmitem algo de real com a surrealidade dos mesmos. Penso às vezes em como era bom que, apesar de tudo, a minha vida fosse mais parecida com os meus sonhos do que com a realidade.

Pelo menos aquilo a que chamamos realidade. Em que tudo dói, tudo custa, pouco ou nada se consegue sem sofrimento. A vida em que achamos que alguém nos ajuda, mas que chegamos à conclusão que afinal estamos sozinhos. Que a solidão é inerente ao ser humano.

Que ninguém te ajuda sem querer nada em troca. Que, quando podem, te lixam a vida sem pensar duas vezes. Que te discriminam apenas pelo corpo que tu tens. Que te tratam com preconceito apenas por seres como és.

Uma realidade em que vês as pessoas de quem gostas adoecerem e morrerem. Em que vês a tua cara envelhecer no espelho. Em que algo a que chamam amor não passar de uma palavra sem sentido. Amor não existe. Não no sentido do enamoramento entre duas pessoas. Existe entre uma mãe e um filho. Às vezes entre irmãos. Não nos amantes.

O amor é bonito nos livros, nas palavras dos poetas, nas prosas dos escritores. Esse suposto sentimento só traz sofrimento na vida real. Algo bem diferente dos poemas de amor. A vida real não é compatível com o amor. Apenas os sonhos são.

Gostava de adormecer e não acordar mais. Sonhar eternamente. Ser quem nasci nesta vida eternamente. Sem ter quem me julgasse, maltratasse, humilhasse, discriminasse. Deixar-me navegar pelas ondas dos sonhos, abraçar as paisagens oníricas e não ter noção do tempo.

40 anos a lutar e a tentar lutar é muito. Estou muito cansada. Cansada porque, no final, não sou eu que controlo a minha vida real, são os outros. Supostamente são eles que decidem quem eu sou ou quem eu deveria ser.

Nos meus sonhos sou eu que decido tudo. Sou eu que pinto as cores do meu destino, que escolho por que caminho vou. Tudo é suave, irreal, eu sei, mas bonito. Calmo, respeitador, azul.

A vida real é insuportável. Pelo menos para mim. Não consigo respirar, não consigo fazê-la fluir. Não consigo que ela me dê o que eu tanto lhe dou.

Quero dormir e sonhar para sempre. Descansar junto das nuvens. Beber os oceanos. Ser, finalmente, quem eu sou.