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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

sexta-feira, junho 06, 2008

Why it's so hard?...


Tive consulta de acompanhamento com o meu médico psiquiatra, depois das primeiras cirurgias. Falámos sobre várias coisas, sendo que tudo "empacou" na questão do ter ou não ter um namorado sério/companheiro. Que é muito importante, para o meu bem-estar emocional e físico, e que, depois da CRS (Cirurgia de Redesignação de Sexo) será imprescindível ter uma vida sexual activa, até para a total recuperação.

Isto eu já sabia. Aliás, o meu cirurgião, quando me explicou os procedimentos de toda a CRS me afirmou e avisou disso. Quanto à parte do bem-estar psicológico, emocional e físico, também eu já sabia, como praticamente toda a gente sabe.

A grande questão final foi porque estava eu sozinha. Não lhe dei novidade nenhuma. Os homens que conheço publicamente ou via internet em nada são diferentes. Têm um discurso de mais ou menos bom-gosto, mas quando eu revelo que sou uma mulher Transexual o discurso altera-se totalmente. Passo de uma mulher como qualquer outra (que é o que sou!) para um objecto sexual desprovido de emoções. Querem é sexo, e sem qualquer tipo de compromisso. Revelam o seu pior e mais animalesco lado, de total falta de respeito e de dignidade para comigo.

Sendo assim, e como não estou minimamente interessada em sexo per si, chegamos à conclusão que realmente é muito difícil encontrar um namorado sério/companheiro. Já escrevi vários posts sobre esta temática, mas hoje foi realmente um "click" falar nisto com um homem (o meu psiquiatra/sexólogo) sobre os homens no geral. Curiosamente, o feedback dele não se afastou muito do meu, e reconheceu que, hoje em dia, parece que as coisas andam um "pouco invertidas": ou seja, em vez de se iniciar uma relação naturalmente, sendo que o sexo vem depois e por arrasto, se faz precisamente o contrário - vai-se para a cama e depois logo se vê se dá ou não.

Mas fiquei a matutar nas palavras e frases que trocámos. Como não foi difícil para mim ter uma relação (mais ou menos) séria durante um ano e tal, e como hoje em dia isso me parece quase impossível. Não há homens românticos? Não há homens de mente aberta? Não há homens que nos saibam respeitar e aceitar como somos? Estas são apenas algumas questões que me fazem pensar a mim, e de certeza, a muitas outras mulheres - biológicas e Transexuais - que lêem este post.

Apesar de, e ressalvo, seja bem mais difícil para uma mulher Transexual encontrar um companheiro do que para uma mulher biológica. E, muitas vezes, quando encontramos "aquele" candidato de "sonho", ele ser ou casado, ou comprometido com outra, ou (menos grave - risos!) gay.

"I'm old fashioned". Sim, para mim tem que haver um conhecimento mútuo primeiro, uma amizade que se forma, um "click" quando nos olhamos. Sexo? O sexo vem depois. Obviamente que o sexo é importante numa relação amorosa entre duas pessoas. Agora, viver para o sexo? Só pensar em sexo? Só querer sexo? Isso não faz qualquer sentido para mim.

Sim, porque uma intimidade sexual é relativamente fácil de se criar. Mas e uma intimidade emocional, inerente e o mais importante em qualquer relacionamento amoroso? Aí é que reside o problema, e ninguém parece muito interessado, hoje em dia, em criar laços emocionais com alguém especial.

Para mim, intimidade emocional é imprescindível. Talvez para a maioria das pessoas não seja, ou nem sequer pensem nisso. Para mim, o mais importante são os sentimentos, o sentir. Por isso me pergunto: Why it's so hard?...