A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

terça-feira, julho 08, 2008

Transição? Opção? O quê?


Há uns dias, em conversa telefónica com a minha mãe, ela voltou a tocar num dos pontos-base da questão da Transexualidade - para ela é uma "opção" que eu tomei. Assim como será uma "opção" para qualquer outra mulher ou homem Transexuais. Sim, como se nós escolhêssemos ser assim, e não nascêssemos com uma identidade de género não correspondente com o nosso corpo físico.

Voltei, pela milionésima vez, a dizer-lhe que não é opção nenhuma, que ela sabe muito bem que nasci assim, etc, etc, etc. A resposta foi pragmática: "Então tinhas-nos dito mais cedo para tomares hormonas masculinas e ficares "normal", ou então esperavas até nós morrermos. Não era agora que te havia de ter dado para isso!" Furiosa, respondi-lhe que me bastaram os DEZ anos em que me castrei e apaguei a mim própria para eles não sofrerem por eu ser quem sou! Só que um dia já não dá mais! Temos que dar o grito do "ipiranga" e assumirmo-nos como somos.

Mas é muito triste para mim ouvir este tipo de coisas. Sei que a (muita) idade deles e a educação que tiveram não ajuda em nada, mas eu não tenho que pagar por isso. Não deveria pagar. Mas pago. Todos os dias. Não é o suposto desprezo dos outros que me incomoda. É o dos meus pais, principalmente o do meu pai, que me magoa. Porque a minha mãe diz estas coisas, mas apoia-me, ou tenta, à forma dela. Não me despreza. Até me tenta acarinhar e faz questão que falemos todos os dias ao telemóvel.

Transição. Tentei falar uma vez com a minha mãe sobre a transição. Não percebeu nada (o que era de esperar), e eu própria dei por mim a gaguejar em relação ao que é a transição. Uns dizem que a transição começa no tratamento hormonal e termina depois da Cirurgia de Redesignação de Sexo (CRS). Outros dizem que a transição começa quando vivemos as 24 horas no nosso papel de género e pode nunca terminar, caso não façamos a CRS. Então em que ficamos? Quem não faz a CRS passa o resto da vida em transição? Mas isto faz algum sentido?

Na minha muito modesta opinião, a minha transição já foi. Começou quando tive a verdadeira noção da mulher que era e sempre fui e terminou quando o assumi publicamente, vivendo no meu papel de género todas as horas do dia. O tratamento hormonal e as cirurgias fazem parte do meu processo de melhoria de acordo com o que desejo visualmente para mim, com o que me faz sentir bem, mais eu. Mas já não é uma transição. É um complemento, apesar de importantíssimo (pelo menos para mim) claro.

Resumindo, cada vez se arranjam mais rótulos e se reformulam os existentes para, parece, criar mais confusão. Por isso, acho que qualquer dia deixo, pura e simplesmente, de me "definir" segundo os canônes. Sou uma mulher e basta. Sou uma mulher, ponto. Transgénero, Transexual, whatever. Temos que deixar de nos rotular e, acima de tudo, não deixar de forma alguma que nos rotulem, que nos ponham uma etiqueta na testa.

Sou uma mulher. E chega.


"What's Your Name" - Morcheeba

1 Comments:

Blogger onan said...

e és uma mulher do caraças: linda, segura de quem és, íntegra, inteligente, lutadora. e isso ninguém te tira. isso ninguém te rouba. és quem és e isso has the fucking price to pay. mas isso tu sempre soubeste. não é justo que o preço seja tão alto mas esperamos, eu espero, por ti, e pela crença de que tenho de que o mundo ainda pode ser um sítio que valha a pena habitar, que os fortes vencerão. e tu és uma força da natureza, com tudo o que de aterrador isso signifique. mas és, sabes disso. és uma lutadora. já lutaste muito para chegar até aqui. remaste, e remas, contra ventos e marés e nunca te deixaste conspurcar, nunca te perdeste. lara, amiga e mulher, lara, estás cada vez mais perto daquilo que tu sabes que és. e isso, minha amiga, que, supostamente e indevidamente dói a quem menos era suposto, traz alguma tempestade. mas os fortes não remam em mar calmo. estás na tua luta, na tua tempestade, mas essa é a tua luta e a tua, tão merecida, bonança há-de vir. essa bonança tem de vir. tu mereces, tu és sinónimo da mesma. tu, que só és da paz, do bem, do amor, vais ter a tua, tão aguardada, merecida, renhida bonança.

admiro-te, sempre (não te
esqueças disso)

o teu amigo (que só torce por ti),

onan

julho 12, 2008 7:38 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home