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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

domingo, junho 08, 2008

As histórias de Amor têm um final triste... Parte 2


Já escrevi sobre o horrível caso que se passou com Calpernia Addams. Como referi nesse post, o filme sobre essa história infelizmente real, “Soldier’s Girl”, marcou-me muito, demais.

Fez-me pensar, como também referi, o que eu faria se tal me acontecesse a mim. Talvez entrasse em depressão profunda e em auto-destruição, quem sabe? Já sou dada a estados depressivos, logo uma situação limite emocional poderia provocá-lo facilmente.

Apesar de apenas ter tido alguns namoros, sem nada de sério, houve um que me marcou muito, demais. Aquele que começou numa tarde de Setembro de 2002, com um homem um ano mais velho, chamado Jorge.

Foi uma coisa super-natural. Conversámos, conhecemo-nos e começámos a namorar “oficialmente”. As coisas foram evoluindo e eu sentia-me nas nuvens. Mas, como referi no post anterior, não havia intimidade emocional, apenas sexual. E eu fui-me ressentindo disso com o tempo, apesar de ele ter sido sempre honesto comigo (pelo menos nesse sentido) e me ter dito que não me amava. O problema é que a minha paixão se transformou em amor, e nos sentimentos ninguém manda.

Os nossos corpos encaixavam na perfeição, aprendi a ter prazer e a sentir-me sexualmente como a mulher que sou, apesar de Transexual. Pelo menos algo de bom houve e ficou. Mas o desânimo com a “suposta” relação – falo assim porque ele tinha vergonha de mim, de sair à rua comigo, de me apresentar aos amigos, etc. – instalou-se.

E eu entrei em desespero no final do ano seguinte, quase um ano e meio depois do início do “namoro”. Um belo dia, acordei decidida a acabar com tudo, apesar de me sentir calma e serena. Fui trabalhar, e liguei à minha melhor amiga, Eduarda, a despedir-me. Pedi-lhe que não me ligasse, ou que dissesse fosse a quem fosse o que se passava. Obviamente que não foi o que ela fez.

Quando saí do trabalho dirigi-me a casa – vivia sozinha na altura. Tomei alguns calmantes e fiz tudo o mais naturalmente possível, enquanto os telemóveis não paravam de tocar – desliguei-os. Tinha fome, comi alguma coisa que gostasse muito. Tomei mais calmantes. Adormeci no sofá, depois de ter começado a ver duas televisões, duas mesinhas, etc.

Logo a seguir toca a campaínha. Atordoada, levanto-me e arrasto-me até à porta. Para meu espanto, era ele, o Jorge. Estava com as lágrimas nos olhos e parecia desesperado, perguntando-me o que eu tinha feito. Com os nervos, fiquei mais acordada. Tentei explicar o que não tem palavras para ser descrito. Convenci-o de que não precisava de me levar ao hospital e, com muito esforço e a ajuda dele, consegui fazer um café MUITO forte. Depois de duas chávenas grandes e de ter levado com água fria na cabeça e rosto, comecei a despertar.

Ele ficou comigo até meio da noite. De madrugada, a Eduarda foi ter a minha casa, para eu não ficar sozinha. Fui trabalhar, como se nada se tivesse passado. Dois dias depois, ele terminou tudo comigo, magoando-me o mais que podia com as palavras. Isto foi em 2003.
Passaram quase cinco anos e nunca mais fui a mesma. Entrei em depressão profunda, que só se revelou no seu esplendor alguns meses mais tarde. Tive que meter baixa durante dois meses para me recuperar. E aí começou a minha auto-destruição. Perdi (quase) tudo o que amava, e perdi tudo o que tinha: casa, trabalho, namorado.

Hoje em dia não sou mais do que um reflexo do que se passou nessa altura. A auto-destruição é contínua, a auto-estima e o amor-próprio são baixos, e a tendência depressiva, grande. Vivo porque acho que a vida é uma dádiva. Vivo porque me foi permitido nascer e viver. Vivo porque hoje sou mais eu e estou cada vez mais próxima de ser EU fisicamente. Vivo porque o passado passou, apesar de doer. Vivo apesar de nunca o ter esquecido e não me esquecer dele. Vivo porque sim. E acho que esta é uma excelente razão!