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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quinta-feira, junho 12, 2008

Faiza Khálida

Hoje publico aqui uma entrevista que a minha querida amiga virtual (por enquanto, espero!) Faiza Khálida deu a um jornal brasileiro. Ela é realmente uma força da natureza. Inteligente, educada, corajosa, possuidora de uma força intrínseca, Faiza é um exemplo para todas nós, mulheres Transexuais.
Aqui fica, então, o artigo. E mil beijinhos muito especiais para ela!




Legenda: Professora de inglês da rede municipal de ensino de Belford Roxo faz cirurgia e muda de sexo. Na foto Faiza Khálida em seu quarto onde corrige e prepara provas - Foto: Gustavo Azeredo / EXTRA

Professor vira professora, mas enfrenta preconceito em escola municipal de Belford Roxo

Aos 20 anos, a professora de inglês Faiza Khálida Coutinho usou seu primeiro vestido de festa e dançou de rostinho colado. Mas precisou esperar 11 anos pelo sonhado primeiro beijo. No meio do caminho, aconteceu o grande vôo de sua vida. Mais precisamente para a Tailândia, onde ela fez a operação de mudança de sexo por US$ 5.500 dólares (R$ 8.900), em 2004. Dinheiro poupado centavo a centavo pela professora da rede municipal de Belford Roxo.

- Minha adolescência foi uma depressão. As pessoas me viam como homossexual. Era uma agressão. Eu me refugiava em casa e na Igreja. Desde o momento que peguei o avião para a Tailândia foi só alegria e paz - conta a professora de 35 anos.

Após conquistar a identidade feminina legalmente, Faiza destruiu todos os documentos antigos e ateou fogo às fotos da adolescência. Mas a operação para a troca de sexo não foi o fim de um conto-de-fadas. Apesar do sucesso do procedimento cirúrgico, Faiza sofre até hoje as marcas deixadas pela discriminação:

- O preconceito é velado. Recebo muito apoio dos meus alunos, da minha diretora Leci, mas já sofri muito. Todo dia é uma luta.

Hoje, ela enfrenta mais uma briga. Na Escola Municipal Jorge Ayres de Lima, Faiza recebeu um recado, por intermédio de uma funcionária, de que o pai de um aluno quer tirá-la da escola. Foi o bastante para velhos fantasmas renascerem:

- Já fiquei sem ter como trabalhar. Todo dia saio de casa treinando minha emoção. Espero abrir caminhos para quem fizer a operação depois de mim.

Mãe é o anjo da guarda e melhor amiga

A história de Faiza contraria qualquer estereótipo. Nas paredes e estantes de sua casa, em Xerém, imagens de santos, bíblias e fotos falam muito sobre a história da família. Ex-catequista e ex-professora de crisma, Faiza adora receber as visitas das freiras franciscanas e dos grupos de oração. Religiosa, é fã das canções sacras compostas pela Irmã Miria T. Kolling e mantém uma vida recatada.

Essa trajetória só foi possível graças a Dona Gecy Coutinho, de 75 anos, mãe de Faiza. Católica praticante, ex-ministra da Eucaristia, ela nunca rejeitou a filha. Preferiu protegê-la em sua casa a julgá-la. Quando a equipe de reportagem chegou à sua casa, Dona Gecy ficou acompanhando, de longe, a entrevista. Os olhares, desconfiados, denunciavam o medo das visitas. Só depois, abriu o coração.

- Ela já sofreu muito, sofre até hoje e não merece. É ótima filha, muito católica. Sempre me ajudou a cuidar da minha irmã, que está em cima de uma cama por causa de um derrame - disse, sem disfarçar a emoção.

Coragem de assumir

Faiza conta que, quando fez a operação, amigas lhe recomendaram mudar de cidade e recomeçar a vida.

- Disseram para eu abrir um salão, ir para longe, onde não me conhecessem - lembra ela, que preferiu enfrentar o preconceito e lançar dois livros "O primeiro beijo" e "O amor supera tudo".

Pai vê lição de casa com desconfiança

Na Escola Municipal Jorge Ayres de Lima, a atuação de Faiza é elogiada.

- Ela é superbem aceita. É ótima professora. Todos sabem sobre sua história e a respeitam. Apenas um pai não gostou que ela colocou foto e e-mail em uma redação. Mas foi um incidente menor - minimiza a coordenadora Cássia Conceição Fernandes de Oliveira.

Para Faiza, o incidente demonstra o preconceito velado. Segundo a professora, para ajudar os alunos na confecção de uma redação sobre o perfil de cada um, Faiza fez uma ficha com seus próprios dados pessoais. Cada aluno deveria imitar a professora e, a partir dos dados, construir um texto.

- A funcionária acabou me dizendo que o pai da criança não me aceitava. Disse que eu não ficaria magoada caso a escola quisesse trocar o aluno de turma, tem vários outros estudantes que querem ter aulas comigo, a comunidade me adora. Mas disseram que o pai queria minha saída da escola. Tenho tido dores-de-cabeça e chorado muito - conta Faiza.

A história remete a um trauma do passado. Faiza foi afastada da primeira escola municipal em que trabalhou pela diretora após começar a fazer mudanças no seu corpo e no seu modo de vestir. Depois, vagou por várias escolas.

- Nós a procuramos quando soubemos que ela estava sofrendo. Ela está tendo o apoio jurídico do estado - conta Marjorie.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oi Lara, bom dia, como vai? Já te acompanho há algum tempo - cheguei a citar o endereço deste espaço lá no meu blog - mas é a primeira vez que deixo um comentário. Acompanho o seu blog com bastante regularidade, até porque o acompanho via Bloglines, assim sei sempre que adiciona um novo post. Aliás, dia desses até pensei em te escrever, fiquei preocupada contigo, sabe como é, a gente vai se afeiçoando às pessoas, mesmo quando não as conhecemos - você não me conhece, mas eu já te vi pessoalmente - afinal pelos blogs a gente vai acompanhando a vida de cada um, os sentimentos, os desafios nada fáceis. Fiquei preocupada porque você me pareceu triste - não sem motivo - afinal você está bem perto de realizar o seu sonho mas tem que enfrentar grandes obstáculos - estou falando daquela questão do parceiro fixo - mas o que quero que saiba, Lara, é que estou aqui torcendo por você, que sempre que te leio vou mandando boas energias, você é uma batalhadora e merece ser feliz. Sobre esse post realmente é um absurdo haver esse preconceito. Fico imaginando a preocupação, o acto de ir para a escola e o medo de de repente perder o emprego por causa do preconceito alheio. Felizmente ela tem várias pessoas do lado dela, que dão amor e apoio - amor e apoio incondicional, sobretudo pela pessoa que ela é, afinal haverá mesmo amor verdadeiro cercado de muros e condicionalismos? - mas infelizmente sempre haverá um ou outro tentando impedir a felicidade, tentando colocar obstáculos, invadindo o direito do outro de ser feliz. Vou torcer por ela também, é uma guerreira, uma mulher que merece todo o respeito, por ser mulher e por levantar a cabeça e seguir em frente por mais que em volta algumas pessoas teimem em tentar impedir essa felicidade.

Beijo para você, felicidades.

junho 13, 2008 11:58 da manhã  

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