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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

terça-feira, julho 29, 2008

What the hell is going on?


Supostamente eu não era para estar a postar agora. Tinha uma cirurgia para fazer, mas um súbito ataque de sinusite mudou-me o esquema todo. Sendo assim, a cirurgia foi adiada (felizmente não para daqui a muito tempo) e até lá irei postando sempre que a inspiração e a vontade de escrever me surjam.

E hoje vou "bater nos ceguinhos" outra vez. E também dizer que é "mea culpa" grande parte desta situação.

Tenho 37 anos, estou quase como sempre desejei ser fisicamente, tenho saúde e tenho amigos e amigas que me amam, além dos meus pais, que esses apesar de tudo amam-me incondicionalmente, eu sei.

Então porque não surge na paisagem da pradaria um belo cowboy, inteligente, sensível, com sentido de humor e honesto e sincero?

Talvez porque ou eu já não estou actualizada e isso não existe (é uma espécie de homo sapiens sapiens que já deu o que tinha a dar), ou porque os conceitos deles são outros, e aí eu não estou interessada. Sim, porque se os conceitos deles de serem românticos é darem-te uma lingerie erótica para a primeira noite de sexo, então eu sou uma mulher do século XVIII.

Parece que está tudo invertido. Em vez de se começar uma relação por conversar, tomar café, ir ao cinema, passear, etc, e então, se ambas as partes se entendem vir o sexo, não, começa-se logo pelo sexo e depois conversa-se!

É a teoria do "dispara primeiro e pergunta depois".

Claro que é "mea culpa" muitos deles nem sequer se aproximarem muito. Talvez porque já estou muito escaldada, talvez porque criei defesas demasiado grandes, talvez porque já antevejo os panoramas, talvez por tudo isto, ou nada disto. É muito relativo e subjectivo analisarmos sensações de quando conhecemos alguém e percebermos se está ou não a dar em alguma coisa. O melhor é não pensar sequer e deixarmo-nos levar. Pelo menos essa era a minha teoria.

Hoje em dia já não consigo. Então desde que coloquei as próteses mamárias é que é. Percebe-se perfeitamente o efeito altamente sedutor e sexual dos seios nos homens. Não é que antigamente (antes de eu ter mamas) não mostrassem interesse. A grande diferença é que agora o interesse da parte deles aumentou muito mais, exponencialmente.

Ou seja, eu passei a reduzir-me a uma gaja com mamas. Se antigamente o meu cérebro já não interessava, agora então... Que tristeza, meus amigos. Eu tenho seios agora, porque sempre o desejei, apesar de ter tido uma fase de negação dessa realidade, e desejei-o para me sentir bem, melhor com o meu corpo. Não para ser mais uma boneca insuflável para vosso bel-prazer.

E, se as mulheres são, em geral, mais discretas nas demonstrações sexuais que fazem, os homens não o são nada. São as visitas aos perfis a aumentar, os comentários e mensagens com o eterno "gostava de te conhecer" que quer, na realidade, dizer "quero fazer sexo contigo", são os assobios na rua, as "bocas" e por aí fora.

Para a maioria das mulheres biológicas que lerem isto soará estranho, pois desde sempre estiveram habituadas a este tipo de aproximações. Mas eu não. Sou uma mulher com seios mais "recente", digamos assim.

Mas, no fundo, nada se alterou. Os homens (pronto, a sua esmagadora maioria, não quero aqui os poucos ditos "diferentes" a mandar vir) são uma merda. Já disse que não são todos, mas lamento que por uns levem ou outros por tabela. E não é só com as mulheres Transexuais que este tipo de situações e outras piores se passam. É com TODAS as mulheres. TODAS as que conheço se queixam, Transexuais ou não.

Como já referi, pelos vistos não me adapto mesmo a este "weird" século XXI num país machista de ideais religiosos judaico-cristãos. Acho que nesse aspecto sou demasiado romântica, feminista e feminina. Coisa que muitas mulheres se esquecem de ser. Também e principalmente por educação e vivência neste buraco de país.

E tudo isto me deprime, ponto. E não, não vou aqui dizer que não vou escrever mais a "malhar" nos espécimes do sexo masculino. "Malharei" sempre que se justifique, o que foi agora o caso.

"E, o príncipe encantado? Não, até hoje só sapos..."


Scissor Sisters - "Filthy Gorgeous"