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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Transmutação


É curioso pensar na minha vida nos últimos oito anos. Foi uma época de (re)descoberta de mim, de quem sou, do que almejo para mim, do que desejo no meu íntimo.

Em todas as fases do processo clínico de Transexualidade, a que me está a custar mais é, sem dúvida, esta fase das cirurgias. Não só porque o meu corpo mudou, adaptou-se ao que eu sempre quis, mas essencialmente porque vêm os medos.

O medo da cirurgia, da anestesia, do acordar, das dores. O medo de que aqueles que amo se afastem, porque as mudanças já são demasiado evidentes (refiro-me ao peito, obviamente), ou o medo que elas reajam mal como eu sempre esperei que reagissem.

É uma altura de concretizar aquilo que sempre ansiei. De ser a mulher plena fisicamente como devia ter nascido. Mas é a altura de me deparar com os outros medos, que acabam, infelizmente, por se tornarem reais.

E é o medo de lidar com as atitudes de assédio com que nunca me tinha deparado antes, com as pessoas (especialmente os homens) a repararem no meu corpo, a fazerem-me sentir desejada de outra forma, que não uma andrógina.

Parece que só agora sou uma mulher, se afinal sempre o fui. Para mim não faz sentido, mas para quem não sente como eu, é o mais natural. No início tinha a noção que eu estava a adorar as mudanças cirurgícas no meu corpo, agora tenho a noção que não sou só eu que gosto. E confesso que nunca estive habituada a lidar com assédio sexual.

É tudo mais fácil quando vivemos num limbo andrógino. Torna-se muito mais difícil lidar com a realidade feminina socialmente aceitável no dia-a-dia.

Bem, Lara, benvinda ao mundo das mulheres!

2 Comments:

Blogger Lil said...

Muito bem vinda! :)

dezembro 11, 2008 4:53 da tarde  
Blogger Dri, a sereia said...

Lara, este post reflete exatamente o que estou passado no momento. Ontem estive conversando com um amigo sobre isso, ele me deu muitos conselhos positivos, me pôs pra cima (sou uma pessoa naturalmente de alto-astral, mas ontem tive um baque – acontece!).

Tenho exatamente os mesmos medos, tanto é que cheguei a dizer pro meu amigo: “Por que eu tenho que passar por tantas cirurgias pra ser quem sou, por quê? Eu queria acordar pronta, como qualquer outra mulher, sem ter que me submeter a riscos. Por que comigo??” Enfim, uma crise básica mas graças a Deus incomum.

Ver que não estou só, que as outras mulheres como eu têm os mesmos medos me reconforta, vejo que não é uma patologia, é normal, é humano, afinal ninguém quer o sofrimento de passar por cirurgias, dores... mas parece que a busca da plenitude sempre falará mais alto e o medo vai ter mesmo que ceder lugar à coragem e ficar de lado.

Quanto ao assédio, há sempre aquele lado bom de massagem do ego... dependendo de quem assedia, é até muuuuito bom, rsrs.

Bjcas,

Dri

dezembro 17, 2008 1:26 da tarde  

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