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Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Dor de dentro


Hoje reparei numa lua pálida quando vinha para casa de carro. A Eduarda estava alheia nos seus pensamentos, enquanto conduzia, e eu olhava pela janela do carro, observando as luzinhas lá em baixo, as da ponte, as dos faróis dos carros, sempre com aquela luz ténue presente.

Presente como a minha dor, que teima em não passar. Uma dor feita de muita tristeza, de um lar desfeito, de um amor perdido para sempre, mas que teima em ficar, e de tanta, tanta coisa mais. Hoje chorei. Chorei muito. As lágrimas caíam como se os meus olhos fossem fontes. Disse à Eduarda que nunca consegui esquecer o amor que sinto pelo Jorge de quem já falei aqui.

E disse-lhe que me comecei a deixar morrer a partir do momento em que a nossa relação terminou. A minha vida reduziu-se a pouco. Tinha trabalho mas fiquei sem ele passado algum tempo. Fiquei com mais espaço para pensar. Para pensar nas coisas certas e muito para pensar nas erradas. Não tive mais nenhuma relação. Afasto os homens de mim. Nada é o mesmo sem ele.

A minha fragilidade e a minha dor vêm de dentro. De dentro da minha alma, do meu coração. Os dias correm como se se passassem segundos. Não dou por eles. Não penso. Tento tirar apenas as ideias mais recorrentes da minha mente. De resto, sobrevivo apenas. Não sinto prazer em nada, não quero fazer nada.

É como se me mantivesse hibernada durante todo o ano. O tempo já não faz sentido para mim. Já nada faz sentido para mim. Só queria adormecer e não voltar a acordar. Aí já não sentia mais a dor...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu já nem isso sinto, o de não querer acordar. Mas pronto, uma pessoa (sobre)vive.

**

setembro 20, 2007 11:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"é preciso tremer para crescer", disse o rené char. e tu, sei eu e muita gente, tens tremido muito. é por isso que és um ser que tem crescido muito. é por isso que és uma grande mulher. nunca te esqueças disso. e há-de haver um dia em que as tuas lágrimas correrão de baixo para cima. em que o sorriso se te há-de abrir e que vais ficar muito feliz por teres tido o privilégio de ter sido tu. o privilégio de teres lutado. e eu sei que vais vencer. porque a tua luta merece exactamente isso: o privilégio que descobrirás que tiveste em ter sido tu. quando tudo é tão vazio e fútil e passageiro; teres sido tudo, lutado por ti, sofrido por ti é algo de maior. tu és maior, no fundo sabes que sim. por isso dá tempo ao tempo e dá-te ao tempo. there will be light. or there is space, somewhere, for the light you carry on, me dear.
um beijo, sempre de admiração, de onan.

setembro 22, 2007 6:09 da manhã  

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