Lara's dreaming

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Localização: Lisboa, Portugal

Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.

domingo, junho 24, 2007

36 anos


Há pessoas e pessoas. Há aquelas que são boas e aquelas que são más. Há os seres humanos (por conterem humanidade) e os outros. E eu não sou daquelas pessoas que acredita que somos bons de forma inata, muito antes pelo contrário.

Ao longo da minha vida tenho-me deparado com todo o tipo de pessoas. Boas e más. Mais más que boas, diga-se de passagem. E como me encontro numa espécie de limbo agora, penso muito mais nisso. No que chamo bom e mau, positivo e negativo, ser humano ou não. Para mim, para se ser um ser humano tem que se ter sentimentos, complacência, paixão, a chama da vida que nos une aos outros.

Considero-me um ser humano. Enquanto que para os meus pais e para a maioria das pessoas que eu vejo no dia-a-dia não passo de uma freak, uma alien, um aborto da natureza, eu sei que dentro de mim ainda persiste essa chama, essa paixão, essa complacência, esses sentimentos todos que fazem parte do meu mundo.

O meu processo está adiantado, devo iniciar as cirurgias no mês que vem. Em contrapartida, a minha relação com os meus pais está pelos dias da amargura, e se ainda não o sou, deverei ser excomungada nos próximos dias ou semanas. Tentei. Quem me conhece bem sabe que tentei sempre mantê-los protegidos ao máximo daquilo que eu sabia que ía passar - discriminação, preconceito, dor, sofrimento. Mas a vida é minha, e eles não poderiam nunca vivê-la por mim. Por isso agora sofrem. Não mais do que eu, apesar do que dizem.

Estou demasiado fragilizada, por isso tento e tenho que me proteger ao máximo. Vou diminuir a minha vida social ainda mais e ao mínimo, saindo apenas para tomar café e pequenas compras; vou deixando o activismo Trans cada vez mais, não só porque estou cansada, mas porque há quem o faça e possa fazer muito melhor que eu; vou tentando viver quase de forma indolor cada dia que passa.

Não tenho vida emocional amorosa, o que me ajuda. Apesar de ter sido mal-interpretada e mal-tratada por pessoas de quem não estava minimamente à espera, mas quem se ri melhor ri-se por último. Estou arrependida de ter trocado emails com certas pessoas que não mereciam mais de mim do que desprezo. Agora, e sem razão aparente, desapareceram. Realmente deve ser muito complicado ter um relacionamento amoroso com uma mulher Transexual, ou pura e simplesmente, ser apenas um amigo (virtual) com quem se toma um café.

Tudo isto me enerva e me deixa mais calma, apesar da contradição. Sei bem até onde quero ir, sei muito bem o que quero. E o meu horizonte alargou-se com todas estas experiências. Para o bem e para o mal.

Bem vind@s aos 36 anos da Lara.

segunda-feira, junho 11, 2007

Fernanda Abreu em Lisboa – A diva deu um show!


Dia 7 de Junho de 2007, já passava um pouco das 22h00, hora programada para o início do show da diva do baile funk, Fernanda Abreu, em Lisboa. As luzes apagam-se numa sala quase cheia e ouve-se disparando das colunas “Baile Funk”.

Foi o começo de um show magnífico que Fernanda Abreu trouxe à sala do Teatro Tivoli em Lisboa, recriando e lançando oficialmente em Portugal os CD e DVD “MTV ao Vivo”. Fabulosa como os seus fãs bem sabem, ela cantou, encantou, dançou, rebolou e maravilhou.

Mantendo sempre o público preso à sua performance no palco, Fernanda fez todo o mundo vibrar com “Garota Sangue Bom”, “Jorge de Capadócia”, e aqueceu ainda mais com os eternos “Kátia Flávia” e a sua imagem de marca, “Rio 40 Graus”, que levou o público ao rubro.

Sempre comunicando com a audiência, Fernanda fez questão de celebrar o seu trabalho com o grupo Blitz, cantando e novamente encantando, com “A dois passos do Paraíso”, em que todo o mundo cantou com ela e só se viam luzes lindas vindas do público iluminando a sala.

E o show terminou em beleza com “Bloco Rap Rio 2006”, em que toda a gente dançou e rebolou com a diva do baile funk, que a dedicou à música negra brasileira. Fernanda e a sua banda saíram de palco, mas o público não se calou. Todo o mundo bateu palmas, assobiou, bateu o pé, até Fernanda voltar ao palco.

E o encore foi mais uma surpresa da noite. A musa inicia com “Eu vou torcer”, música não incluída no “MTV ao Vivo”, e deslumbrou a audiência, com a alegria e a paz zen dessa canção. E para terminar, nada melhor que uma carismática música para que toda a gente dançasse e para que Fernanda se despedisse do palco da melhor maneira: “Bloco Funk”.

E a nossa diva retirou-se. Soube a pouco, como saberia sempre, pois Fernanda é carismática, fantástica e uma excelente profissional. Volte sempre, que esta terra é também sua, querida Fernanda!

Lara Crespo


Rio 40 graus - Fernanda Abreu (MTV ao Vivo)

domingo, junho 03, 2007

Lara's dreaming...


Às vezes sonho como teria sido a minha vida se tivesse nascido mulher biológica e não Transexual. Se o facto da minha genitália ser diferente faria alguma diferença. Se o meu género psico-sexual não fosse oposto ao físico faria de mim outra pessoa.

Chego a uma simples conclusão, se é que se pode considerar "simples" um caso como o meu e de tant@s e tant@s outr@s: que eu, provavelmente, seria eu na minha essência e na minha experiência de vida, sendo que as diferenças seriam quase inexistentes (os meus pais aceitar-me-iam e respeitar-me-iam, algumas pessoas não se teriam afastado, e pouco mais). E cheguei a esta conclusão porque sempre fui feminina, sempre tive uma vivência feminina, mesmo que "obscurecida" por um aspecto mais masculino-andrógino.

Isto é o que sinto em relação a mim, e relativamente a toda a experiência de vida que fui adquirindo até aos meus (quase) 36 anos.

Resumindo, os meus pais respeitar-me-iam mais se tivesse nascido mulher biológica, os homens provavelmente também (apesar das minhas queixas em relação a eles serem iguais às das minhas amigas bio), e não teria tantos problemas em arranjar trabalho, ou em fazer um simples exame só porque fisicamente não aparento o nome masculino do BI, por exemplo.

Agora resta-me apenas ter calma e paciência, pois tudo vai correndo, apesar de lentamente.
Desejo-vos um resto de bom fim-de-semana e deixo-vos com o último clip disponível no You Tube de Rita Guerra, desta vez em inglês e em dueto com Ronan Keating, que a escolheu para cantar com ele esta música.

Beijos da Lara.

Ronan Keating & Rita Guerra - "All Over Again"