Ninguém suporta a verdade
Num momento em que um ano termina e já está aí a chegar outro, confesso que vários assuntos me passam pela cabeça e sobre os quais quero e hei-de escrever.
Mas há um que me tem "martelado" a cabeça desde há bastante tempo e que tem a ver com sinceridade e honestidade, mais concretamente com o facto de dizeres ou não a verdade, independentemente das consequências.
Exemplo: conheces alguém e vais-te apercebendo das qualidades e defeitos dessa pessoa, e de que essa pessoa poderia e provavelmente deveria limar muitas das arestas que possui. Será que deves dizer-lhe o que achas? Será que deves omitir o que pensas e sentes, apesar de isso te perturbar?
Eu confesso que tenho um grande defeito: sou sincera e digo aquilo que acho que devo dizer, e que considero ser uma verdade para mim. Resultado: as pessoas ficam chocadas, ofendidas, melindradas, porque, no fundo, ninguém gosta da verdade, ninguém a quer enfrentar, ninguém quer lidar com ela.
Podia facilmente encontrar aqui "n" exemplos de situações e explicar porque não se deve dizer a verdade, ser sincera, com as pessoas.
Mas vou dar apenas mais um. Tu és uma pessoa com qualidades e defeitos como qualquer outra, mas tens noção dos teus handicaps e quando conheces alguém que não seja apenas um conhecimento de passagem, decides abrir-te e seres tu a contar a verdade. Errado. Totalmente errado.
Não podes, nem deves nunca, mas nunca ser sincera. Mesmo neste último exemplo em que és tu que dizes a verdade sobre ti, em que és sincera sobre ti. Em que és honesta. Pois é, amiga, acabaste de estragar tudo. A pessoa vai entender isso como fraqueza, falta de amor-próprio, falta de auto-confiança tua, e vai-se afastar.
Ninguém suporta a verdade, mesmo que seja a verdade dos outros.
Ou seja, num mundo em que tudo é encenado, não deixamos nunca de ser actrizes e actores de farsas que nos obrigam a representar. Afinal, foi assim que fomos educados. A representar numa sociedade em que tudo é falso. Talvez por ter nascido como nasci, transexual, e ter passado pelas experiências que passei me tenha ajudado a destruir grande parte desse super-ego, dessa censura, e me tenha tornado "desbocada" para a maioria esmagadora das pessoas. Eu encaro isso como ser verdadeira e honesta.
Mas não há dúvida que para sobreviveres e conseguires o que queres na vida tens que mentir, omitir, falsear e representar algo que não és.
Lamento, mas eu não sou capaz, eu não sou assim. Se calhar por isso me isolei, porque não suporto duplas-faces e se quisesse continuar a representar tinha ido para actriz a sério.
Esta é apenas uma pequena reflexão. Vou tentar deixar mais algumas por aqui nos próximos tempos. Sempre me ajuda e pode ser que ajude alguém a ver-se reflectido neste espelho que eu (também) sou.