Afinal, o que querem de mim?
Hoje de madrugada fui tomar um café à bomba de gasolina aqui ao pé de casa. A Lua Cheia estava linda e brilhante entre farrapos de nuvens. Comecei novamente a pensar no que querem de mim.
Quando refiro "o que querem de mim?" refiro-me a toda a gente, desde os meus pais e restante família próxima, que se encontra em Portugal, aos meus amigos, etc. Parece que toda a gente me cobra algo por ser quem sou. Parece que eu tenho que ser o que os outros gostariam que eu fosse.
Mas não é essa a realidade. A realidade é que sou uma mulher transexual, já com próteses mamárias, e isso não é algo que se esconda, como eles gostariam que fosse. Agora têm mesmo que se confrontar com a dura realidade.
E isso provoca, desde o Natal do ano passado um mal-estar, uma paz podre entre nós. O jantar de família foi absolutamente pavoroso. Parecia que havia algum mal em eu me sentir bem, pois todos os outros se sentiam mal, incomodados com a minha presença.
De tal maneira, que não fui ao jantar de aniversário da minha mãe, em Janeiro. Tenho pena, mas não posso pactuar com uma situação familiar que me desgasta, que me destrói. A minha mãe tenta nem sequer olhar para mim, quando fala comigo pessoalmente, o meu pai olha-me dos pés à cabeça com um olhar de desprezo e ódio. E isso para mim não dá.
Acho que só agora, passados quase oito anos desde o início do meu processo clínico, é que eles se aperceberam que eu nunca andei aqui a inventar e a brincar. E é triste que assim seja. Muito triste.
Quanto à cirurgia final, a de redesignação de sexo, a minha mãe já me pediu para não a fazer. Que me ia arrepender. Que não ia aguentar. Tentei explicar-lhe que logo se via, ainda faltava muito tempo nessa altura. Mas ela não entendeu, ou não quis entender. E eu, mais uma vez, senti-me uma estranha perante ela. Perante o meu pai. Dói. Dói muito saber e, principalmente, sentir, que as pessoas que mais importantes são para mim, me renegam o tempo inteiro. Por isso era impossível continuar a viver mais naquela casa. Por isso saí há mais de dois anos, para nunca mais voltar. Eles sabem que podem contar comigo, mas eu sei que não posso contar com eles. (Quando fui operada ao peito, nem uma visita deles tive no hospital, nem nunca me perguntaram se estava bem, se tinha corrido bem, etc).Quando refiro "o que querem de mim?" refiro-me a toda a gente, desde os meus pais e restante família próxima, que se encontra em Portugal, aos meus amigos, etc. Parece que toda a gente me cobra algo por ser quem sou. Parece que eu tenho que ser o que os outros gostariam que eu fosse.
Mas não é essa a realidade. A realidade é que sou uma mulher transexual, já com próteses mamárias, e isso não é algo que se esconda, como eles gostariam que fosse. Agora têm mesmo que se confrontar com a dura realidade.
E isso provoca, desde o Natal do ano passado um mal-estar, uma paz podre entre nós. O jantar de família foi absolutamente pavoroso. Parecia que havia algum mal em eu me sentir bem, pois todos os outros se sentiam mal, incomodados com a minha presença.
De tal maneira, que não fui ao jantar de aniversário da minha mãe, em Janeiro. Tenho pena, mas não posso pactuar com uma situação familiar que me desgasta, que me destrói. A minha mãe tenta nem sequer olhar para mim, quando fala comigo pessoalmente, o meu pai olha-me dos pés à cabeça com um olhar de desprezo e ódio. E isso para mim não dá.
Acho que só agora, passados quase oito anos desde o início do meu processo clínico, é que eles se aperceberam que eu nunca andei aqui a inventar e a brincar. E é triste que assim seja. Muito triste.
Amigos. Amigos reduzem-se a tantos quanto a minha mão direita tem. Mas contacto pessoal só tenho com dois ou três. Os outros ficam-se pelos emails de forwards, e se não for eu a telefonar, nem nos meus anos se lembram de que eu existo. Isto porquê? Óbvio, não? Desde quando? Desde que me assumi como sou. Chegou ao ponto de eu encontrar um amigo de muitos anos num centro comercial, e ele, sabendo de tudo e deparando-se comigo como a mulher que sou, me cumprimentou com um aperto de mão. Caricato, né? Mas é a realidade.
Como a realidade é, segundo um amigo meu, "se te operares em baixo, encontrarás um homem para um relacionamento sério. Se não, só encontrarás quecas e sexo sem compromisso". Concluindo: very straight to the point.
E com este parágrafo termino por agora. Deixo-vos com o novo vídeo-clip de uma das minhas bandas de eleição, porque tristezas não pagam dívidas.
Enjoy.
The B-52's - "Funplex"