"Give it 2 Me"
A Marcha inicia-se às 16h00 no Jardim do Príncipe Real terminando na Praça do Comércio onde será o Arraial. Fica aqui a dica para quem quiser passar por lá.
Um bom fim-de-semana, e aqui vos deixo o clip. Enjoy.
Sou uma mulher transexual de Lisboa, Portugal, onde nasci e cresci. Neste espaço poderá encontrar pensamentos, reflexões e comentários inerentes à minha vida como mulher trans. Seja benvind@ ao meu cantinho.
De resto, foi um final de semana calmo, com muito calor e uns agradáveis cafés aqui e em Lisboa. O que me ajudou a fazer um ponto da situação da minha vida. Nada de novo, como sempre. Parece que as dúvidas e problemas que temos são sempre os mesmos, apenas com novas roupagens.
Dói-me a reacção da minha família directa a quem eu sou. Dói-me não ter conseguido uma relação estável na minha vida. Dói-me estar sozinha. Dói-me ter nascido num corpo que não é o meu, o correcto. Dói-me. Apenas isso.
Mas vou tentar esquecer um pouco essa dor hoje, e aproveitar para estar com as únicas pessoas que realmente me apoiam: os meus amigos íntimos.
E deixo-vos com "Bedtime Story" de Madonna. Uma canção que se adapta muito bem a este dia "especial".
Enjoy.
Legenda: Professora de inglês da rede municipal de ensino de Belford Roxo faz cirurgia e muda de sexo. Na foto Faiza Khálida em seu quarto onde corrige e prepara provas - Foto: Gustavo Azeredo / EXTRA
Professor vira professora, mas enfrenta preconceito em escola municipal de Belford Roxo
Aos 20 anos, a professora de inglês Faiza Khálida Coutinho usou seu primeiro vestido de festa e dançou de rostinho colado. Mas precisou esperar 11 anos pelo sonhado primeiro beijo. No meio do caminho, aconteceu o grande vôo de sua vida. Mais precisamente para a Tailândia, onde ela fez a operação de mudança de sexo por US$ 5.500 dólares (R$ 8.900), em 2004. Dinheiro poupado centavo a centavo pela professora da rede municipal de Belford Roxo.
- Minha adolescência foi uma depressão. As pessoas me viam como homossexual. Era uma agressão. Eu me refugiava em casa e na Igreja. Desde o momento que peguei o avião para a Tailândia foi só alegria e paz - conta a professora de 35 anos.
Após conquistar a identidade feminina legalmente, Faiza destruiu todos os documentos antigos e ateou fogo às fotos da adolescência. Mas a operação para a troca de sexo não foi o fim de um conto-de-fadas. Apesar do sucesso do procedimento cirúrgico, Faiza sofre até hoje as marcas deixadas pela discriminação:
- O preconceito é velado. Recebo muito apoio dos meus alunos, da minha diretora Leci, mas já sofri muito. Todo dia é uma luta.
Hoje, ela enfrenta mais uma briga. Na Escola Municipal Jorge Ayres de Lima, Faiza recebeu um recado, por intermédio de uma funcionária, de que o pai de um aluno quer tirá-la da escola. Foi o bastante para velhos fantasmas renascerem:
- Já fiquei sem ter como trabalhar. Todo dia saio de casa treinando minha emoção. Espero abrir caminhos para quem fizer a operação depois de mim.
Mãe é o anjo da guarda e melhor amiga
A história de Faiza contraria qualquer estereótipo. Nas paredes e estantes de sua casa, em Xerém, imagens de santos, bíblias e fotos falam muito sobre a história da família. Ex-catequista e ex-professora de crisma, Faiza adora receber as visitas das freiras franciscanas e dos grupos de oração. Religiosa, é fã das canções sacras compostas pela Irmã Miria T. Kolling e mantém uma vida recatada.
Essa trajetória só foi possível graças a Dona Gecy Coutinho, de 75 anos, mãe de Faiza. Católica praticante, ex-ministra da Eucaristia, ela nunca rejeitou a filha. Preferiu protegê-la em sua casa a julgá-la. Quando a equipe de reportagem chegou à sua casa, Dona Gecy ficou acompanhando, de longe, a entrevista. Os olhares, desconfiados, denunciavam o medo das visitas. Só depois, abriu o coração.
- Ela já sofreu muito, sofre até hoje e não merece. É ótima filha, muito católica. Sempre me ajudou a cuidar da minha irmã, que está em cima de uma cama por causa de um derrame - disse, sem disfarçar a emoção.
Coragem de assumir
Faiza conta que, quando fez a operação, amigas lhe recomendaram mudar de cidade e recomeçar a vida.
- Disseram para eu abrir um salão, ir para longe, onde não me conhecessem - lembra ela, que preferiu enfrentar o preconceito e lançar dois livros "O primeiro beijo" e "O amor supera tudo".
Pai vê lição de casa com desconfiança
Na Escola Municipal Jorge Ayres de Lima, a atuação de Faiza é elogiada.
- Ela é superbem aceita. É ótima professora. Todos sabem sobre sua história e a respeitam. Apenas um pai não gostou que ela colocou foto e e-mail em uma redação. Mas foi um incidente menor - minimiza a coordenadora Cássia Conceição Fernandes de Oliveira.
Para Faiza, o incidente demonstra o preconceito velado. Segundo a professora, para ajudar os alunos na confecção de uma redação sobre o perfil de cada um, Faiza fez uma ficha com seus próprios dados pessoais. Cada aluno deveria imitar a professora e, a partir dos dados, construir um texto.
- A funcionária acabou me dizendo que o pai da criança não me aceitava. Disse que eu não ficaria magoada caso a escola quisesse trocar o aluno de turma, tem vários outros estudantes que querem ter aulas comigo, a comunidade me adora. Mas disseram que o pai queria minha saída da escola. Tenho tido dores-de-cabeça e chorado muito - conta Faiza.
A história remete a um trauma do passado. Faiza foi afastada da primeira escola municipal em que trabalhou pela diretora após começar a fazer mudanças no seu corpo e no seu modo de vestir. Depois, vagou por várias escolas.
- Nós a procuramos quando soubemos que ela estava sofrendo. Ela está tendo o apoio jurídico do estado - conta Marjorie.